O Futuro das Cartas 1 - O Postal

Queria começar meus textos falando sobre o futuro das cartas. Fiquem sossegados, pois não vou falar sobre Tarôt (talvez eu estive ganhando dinheiro se o fizesse), o futuro que aqui proponho falar é o das cartas de correspondência, aquelas dos correios. Mas antes vou explicar o porque escolhi este tema.

Durante uma aula da pós graduação ouvi de um professor de muitos títulos (e que fazia questão de enfatizar isso) a seguinte frase: “O fim das mídias impressas está mais próximo do que se imagina e quem não pensar nessa revolução tecnológica que está acontecendo, em poucos anos ficará para trás. O mundo será todo informatizado” e continuou sua visão tecno-apocalíptica com várias afirmações que me incomodavam pelo modo como eram expostas.

Quando entrei no colegial (não faz muito tempo) estava na moda todo mundo comentar que as correspondências seriam substituídas pelo uso dos emails. Mas o que vemos hoje? Sim, o e-mail tomou o lugar das cartas (em muitos aspectos), mas as cartas existem, e posso afirmar que ainda vão existir por muitas décadas (afinal tudo é muito incerto de ser previsto ao longo de um século, até para as previsões do tarôt).

Imaginemos a seguinte situação: Um indivíduo, que vou chamar de Bill, faz uma viajem para outro país, Nova Zelândia, e no anseio de mostrar como está contente (e a fim de ostentar sua viajem parcelada em 24 vezes pela CVC) decide mandar um cartão postal para seus familiares (por mais que eles não mereçam). Qual seria a reação dos familiares se recebessem um e-mail no lugar de um postal?

Imaginemos o valor sentimental e pessoal embutido num pequeno pedaço de papelão que não consegue estar contido numa mensagem eletrônica.

Qualquer um poderia enviar um e-mail com belas fotos dos planaltos neozelandeses e um texto com letra cursiva (para parecer letra de mão) e dizer que está em qualquer lugar do mundo (até em outro planeta), porém a credibilidade e valor não seriam o mesmo do postal.

O cartão postal além de dar mais certeza que a pessoa realmente viajou (e comprou o cartão em alguma banca), ainda poderá ser guardado numa caixa ou álbum (real e não virtual) pela família de Bill, podendo ser admirado inúmeras vezes por quem recebeu. Com certeza a mãe de Bill vai querer mostrar para as vizinhas e amigas do salão que seu filho está tendo uma experiência no exterior (mesmo que parcelada em 24 vezes).

Agora me pergunto, será que se a mãe do Bill recebesse um cartão postal eletrônico ela iria imprimir, a laser em papel couchê resinado, para guardar em seu álbum de lembraças, ou então enviar para o email das colegas?

No máximo este postal eletrônico ficaria guardado em sua caixa de mensagem em algum buraco virtual, poderia então postar em seu blog ou na seção de fotos do seu orkut.

A mãe do Bill foi mais esperta! Ela scanneou o cartão que recebeu do Bill e colocou a foto no seu álbum do orkut com a seguinte legenda: “Este é o cartão que meu filho Bill, mandou da New Zeland, ele não é uma gracinha? (o filho ou o cartão?)” Desse modo ela pode levar o postal para mostrar para suas amigas e ao mesmo tempo enviar a foto dele por email e mostra no orkut.

Isso é um exemplo claro de como as mídias tecnológicas podem conviver pacificamente com as mídias tradicionais. Essa é a Cultura da Convergência (teoria de Henry Jenkins) que vou continuar discutindo na continuação desta postagem.

Continua...

Sinestesia Coletiva

Com certeza a primeira postagem do blog deve ser relativa ao nome que encontrei ser a melhor forma de definir o conteúdo que trabalharei daqui em diante. Vou começar pela análise “palavra a palavra” para explicar melhor.

Tudo começa com a palavra sinestesia, que a primeira vez que tive contato foi num verso do poeta Augusto dos Anjos em que falava do “paradoxo das sinestesias” e que também achei ser um bom nome para o blog, mas o domínio ficaria muito extenso.

Antes de entrar na definição poética quero começar por sua etimologia. Sinestesia vem de origem grega da junção de duas palavras: “Sin” (junção) e “Estesia” (sensações). Na gramática é uma figura de linguagem que denomina coisas do tipo “olhei para a maciez da sua pele” ou o “o gosto das cores que via na bela paisagem”. No sentido poético, sinestesia é usada para designar um momento único que te envolve em todas as formas de percepção e também além dos cinco sentidos, podendo até ser uma epifânia (momento ou situação de despertar).

A palavra Coletiva é um adjetivo que vem do latim “Colligere” (reunir) e no campo da lógica é o termo que designa uma pluralidade de indivíduos considerando como um todo. Coletivo também esta relacionado à idéia de que existe uma organização e um elemento comum que liga todos os membros de um mesmo grupo.

A junção das duas palavras teria como resultado a percepção de diversas sensações diferentes por um grupo de indivíduos que mesmo diferentes possuem objetivos comuns.

Quero mexer com todos os sentidos dos leitores a fim de desperta-los para uma visão crítica da comunicação e seus futuros rumos.

E na visão da comunicação quero promover um questionamento e admiração da comunicação que utiliza de todos os sentidos do receptor para provocar sensações distintas e inovadoras.

Mas para isso não vou ficar fazendo análises bibliográficas e comportamentais de forma acadêmica. Quero ser prático e facilmente entendido, por isso, preferirei usar ensaios e exemplos de casos reais e práticos para mostrar como as mídias sociais e evoluções tecnológicas interferem no mundo da comunicação.

Enfim, convido os leitores a terem um mix de sensações e questionarem, assim como eu, alguns modelos prontos e enlatados daqueles que vemos na faculdade e que se estendem ao mercado profissional. Não busco respostas e sim provocar questionamentos.

Seja bem vindo ao mundo da Sinestesia Coletiva!